Relatorio da epidemia de febre amarella em Lisboa no anno de 1857 / feito pelo Conselho Extraordinario de Saude Publica do Reino creado por decreto de 29 de setembro de 1857.

  • Portugal. Conselho Extraordinario de Saude Publica.
Date:
1859
Catalogue details

Licence: Public Domain Mark

Credit: Relatorio da epidemia de febre amarella em Lisboa no anno de 1857 / feito pelo Conselho Extraordinario de Saude Publica do Reino creado por decreto de 29 de setembro de 1857. Source: Wellcome Collection.

Provider: This material has been provided by The Royal College of Surgeons of England. The original may be consulted at The Royal College of Surgeons of England.

    17/264 (page 13)
    de, talvez porque o maior numero eram doentes que já existiam no hospital, com moléstias pela maior parte graves, e outros tinham entrado de fora em muito mau estado, alguns moribundos. Aindaque se marca o primeiro caso desta pequena epidemia cholerica cm 10 de outubro, consta comtudo que já antes, desde o mez de agosto, linha apparecido um caso de cholera asiatica, de que se não fez men- ção, por ter sido isolado, e parecer sporadico. A moléstia não parou aqui durante o inverno, poisque nos mezes de janeiro, fevereiro, março e abril de 1850 con- tinuaram a entrar doentes cholericos, postoque em pequeno numero, no hospital de S. José, e na pratica civil também eram vistos alguns. É certo porém que, nos primeiros quinze dias do mez de março, o hospital de S. José não recebeu doente algum cholerico. Os casos, durante estes mezes, aindaque pouco numerosos, eram comludo perfeitamente caracterisados, e a pro- porção da mortalidade desfavorável. E emquanto a moléstia continuava durante o inverno sem desenvolvimento notável na capital, apparecia nos seus arredores em diversas povoações fazendo bastantes estragos. Assim acontecia em Sacavem, Alverca, Alhandra, Villa Franca, Pontevel, Yal da Pinta, Cartaxo, Santarém, Barreiro, Seixal, Palmella, Amora, Arrentella, Aldeia de Paio Pires, Cezimbra, Setúbal, Aleacer do Sal, e em outras terras do reino, tanto ao norte como ao sul da capital. O inverno de 1855 para 185G foi notável pelas copiosas chuvas, e pelas tris- tíssimas e escassas colheitas que se seguiram, principalmente de cereaes. No anno de 1855, segundo as notas do conselheiro Franzini, caíram 1:330 millimetros de agua, isto é, mais do duplo do que cáe em um anno regular. Nos primeiros 11 dias de janeiro de 1850 caíram 182 millimetros, isto é, mais do duplo que com- pete á totalidade do mez; e o anno de 1856 foi dos mais escassos que ultima- mente tem havido em produetos agrícolas. Em abril d’este mesmo anno o numero de casos de cholera já augmenlava, eram muitos os casos de cholerina e de diarrhéas cholericas, e percebia-se na mul- tiplicidade das irritações do canal digestivo, ainda pouco próprias d’aquella qua- dra do anno, que a affecção cholerica ía tomar incremento. Os casos que então appareciam não estavam circumscriptos em uma rua, ou mesmo em uma fregue- zia, eram porém mais numerosos no dislricto oriental do que no Occidental da cidade. N’este tempo as povoações da visinhança da capital, que tinham sido an- tes aíTecladas, estavam em descanso. No mez de maio a epidemia continuou no seu desenvolvimento, e nos primeiros dias d’este mez atacou com força os doen- tes do hospital de S. José. No mez de junho o numero de casos era maior, e a moléstia vexava mais o lado Occidental; mas é digno de notar-se que o centro da cidade era poupado. De modo que a maior força epidêmica não correu gradual- mente do lado oriental para o Occidental, mas saltou, por assim dizer, de um para outro lado; apparecendo comtudo casos no centro da cidade, mas em pe- queno numero. Até ao principio de agosto a moléstia foi em augmento; no dia l.° de agosto o numero dos casos registados foi 227, d’ahi até ao fim do mez foi em rapida declinação, havendo no ultimo do mez só 10. Mas o numero de casos de cholerinas e diarrhéas cholericas era muito grande. Nas visinhanças de Lisboa declarava-se então a epidemia com mais ou me- nos violência. Pedrouços, Monsanto, Bemiica, Carnide, Lumiar, Olivaes, Sacavem tiveram bastantes casos e graves; e mesmo Bellas e Cintra, que serviam de refu- gio a muitas famílias, não foram completamente isentas. Em outras terras do reino